Paridade de importação passa a balizar preços internos do trigo

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A queda já consolidada nas safras de trigo gaúcha e paranaense, em razão do excesso de chuvas, e a tendência de aumento das importações do produto alteraram a dinâmica de formação dos preços da commodity, segundo o analista Elcio Bento, da consultoria Safras & Mercado. O mercado, afirma, deixou de se balizar pelo conceito de paridade de exportação e, neste mês, passou a definir cotações com base na paridade de importação, que serve de referência para países com escassez de oferta.

O Rio Grande do Sul deverá colher 3,3 milhões de toneladas de trigo neste ano, uma queda de cerca de 50% na comparação com a safra passada. O consumo anual das indústrias moageiras é estimado em torno de 1,9 milhão de toneladas. Diferentemente do ano passado, quando o Estado exportou 2,4 milhões de toneladas do cereal, o novo ciclo tende a ser marcado por mais embarques no sentido inverso. “Metade desse trigo (da safra atual) é de baixa qualidade, certamente o Rio Grande do Sul vai precisar importar”, afirma Bento. Ele observa que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vem realizando leilões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), para apoio ao escoamento de trigo, e essas operações deslocarão estoques de cereal gaúcho para o Nordeste, pressionando ainda mais o quadro de oferta.

Segundo o analista, os moinhos gaúchos deverão importar 350 mil toneladas de trigo na safra 2023/2024, frente a apenas 17 mil toneladas adquiridas na temporada anterior e 199 mil toneladas no ciclo 2021/2022. Os preços internos da commodity, afirma Bento, subiram em novembro para se ajustar à paridade de importação – se antes a referência para o cálculo eram as cotações praticadas por outros competidores no mercado internacional, como a Rússia, o que agora determina os valores no Brasil são os custos logísticos para trazer o cereal do exterior.

Na média de outubro, por exemplo, os preços indicados no interior do Estado estavam em R$ 1.050 por tonelada, segundo Bento. “Para chegar ao porto de Rio Grande ao mesmo preço que o russo estava saindo do Mar Negro, era necessário vender a R$ 1.021 por tonelada. Ou seja, as cotações domésticas estavam a apenas 2,8% da linha de paridade com o trigo russo”, destacou o analista em relatório. Atualmente, o trigo é cotado no interior em torno de R$ 1.250 a tonelada. “A paridade de exportação em relação ao cereal russo seria de R$ 945 por tonelada. O ‘spread’ (diferença) subiu para 32%”, compara Bento.

Ao fazer a conta da paridade de importação, utilizando como referência a compra de trigo argentino de safra nova, Bento explica que o produtor poderia vender a tonelada a R$ 1.295 para alcançar o preço do cereal importado. O valor indicado no mercado era 19% inferior. “Neste início da quarta semana de novembro, o preço de mercado (R$ 1.250/tonelada) era apenas 2% inferior à paridade com o trigo do principal fornecedor brasileiro no exterior”, diz o consultor.

Com base nesse cenário, Bento ainda vê espaço para novas altas do trigo, mas essa tendência é limitada pela entrada na nova safra argentina no mercado. “A partir de janeiro, começará a entrar bastante trigo argentino e esse trigo já chega ao Brasil com um preço parecido com os praticados hoje. O mercado se alinhou à realidade de preços internacionais e agora está consolidando o novo preço, mas não vejo espaço para grandes elevações no curto prazo”, avalia.

Fonte: CP

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