Chuva intensa deve causar novos transtornos no Rio Grande do Sul neste domingo
A chuva deve se intensificar muito neste domingo em parte do Rio Grande do Sul, especialmente do Centro para o Norte do estado, alerta a MetSul Meteorologia. o fenômeno vai trazer altos volumes de precipitação para apenas um dia em algumas localidades.
A chuva teve início neste sábado na maioria das regiões gaúchas, entretanto, como se antecipava, os acumulados de precipitação ainda não são altos, cenário que vai mudar neste domingo.
Dados de estações do Instituto Nacional de Meteorologia indicavam até o fim da tarde deste sábado volumes de 28 mm em Pelotas, 26 mm no Chuí, 22 mm em Canguçu, 21 mm em Caçapava do Sul e Rio Grande, 16 mm em Santiago, 14 mm em Cambará do Sul, e 13 mm em Jaguarão, Encruzilhada do Sul e Camaquã.
O que vai acontecer?
Uma frente fria que chegou ao estado neste sábado com chuva vai estar semi-estacionária sobre o Rio Grande do Sul ao longo do domingo com chuva.
Um canal de umidade a Leste dos Andes, que se estende da região amazônica até o Rio Grande do Sul, começou a se organizar neste sábado. Durante o domingo, o aporte de umidade aumenta com o Rio Grande do Sul entre ar mais frio ao Sul e muito quente ao Norte.
Além disso, uma área de baixa pressão sobre o Nordeste da Argentina e o Paraguai vai se deslocar em direção ao Centro e ao Oeste do Rio Grande do Sul no decorrer deste domingo.
Com isso, a tendência é de intensificação da chuva no estado com os maiores volumes ocorrendo do Centro para o Norte do território gaúcho, mas, em particular, numa faixa que se estende entre parte do Noroeste, o Centro do estado, os vales, a Grande Porto Alegre, o Sul da Serra e parte do Litoral Norte.
Este é o motivo para o alerta da MetSul de que a chuva tende a aumentar muito durante o domingo em Porto Alegre e na região metropolitana, onde os acumulados podem ser excessivamente altos para apenas 24h a 36h, de 50 mm a 100 mm em diferentes pontos, e com risco de marcas superiores (100 mm a 150 mm ou mais).
A chuva deste começo de semana virá com trovoadas em diferentes locais do estado e em alguns ainda existe a possibilidade de vento, em média de 50 a 70 km/h, o que traz algum risco de queda de árvores.
Volumes de chuva
Com a intensificação da chuva, os volumes devem ser muito altos neste começo de semana em diversos municípios do Rio Grande do Sul, com marcas em 24h a 48h que podem atingir ou até superar a média histórica de precipitação de junho inteiro, em regra de 130 mm a 150 mm.
Como se observa das projeções, a chuva deve exceder 100 mm em vários pontos com marcas em algumas localidades até acima de 150 mm. Isoladamente, o WRF chega a prognosticar marcas acima de 200 mm. O WRF-ECMWF apresenta um preocupante cenário de precipitação entre a Grande Porto Alegre e o Litoral Norte nas bacias dos rios Gravataí e Sinos.
Projeta chuva muito volumosa entre o Noroeste gaúcho e o Litoral Norte gaúcho em 72h até 9h de terça com marcas acima de 150 mm entre a Grande Porto Alegre e o Litoral Norte e acima de 200 mm na região costeira.
O modelo alemão Icon, por sua vez, tem projeção diferente do WRF e do canadense. Não indica volumes tão altos quanto o canadense para a Grande Porto Alegre e projeta chuva volumosa mais ao Norte, para a região da Serra.
Chuva na Serra em altos volumes sempre preocupa porque é a região onde estão as nascentes de rios como o Caí e o Taquari, que tiveram enchentes recordes em maio e cujas águas param no Guaíba.
Os impactos da chuva
A chuva indicada pelos modelos é muito inferior ao registrado no fim de abril e começo de maio, mas este foi um período extraordinário de precipitação que não deve ser usado como balizamento, exceto para contextualizar que é um evento de chuva menos grave.
A “régua” deve se dar por condições médias históricas e, por qualquer parâmetro, a chuva indicada para este começo de semana é muito significativa para um período tão curto, sobretudo entre este domingo e a segunda
Problemas e transtornos são uma certeza. O maior risco são alagamentos em áreas urbanas, especialmente em cidades recentemente afetadas pelas enchentes do mês de maio.
Isso porque a grande quantidade de lixo e entulhos deixados nas ruas agrava o risco de alagamentos em Porto Alegre e outras cidades da região metropolitana, como Canoas e Eldorado do Sul.
Além disso, há o problema das redes de esgotos e das casas de bomba que fazem a drenagem das águas com chuva forte. Em Porto Alegre, 22 das 23 casas de bombas estão ligadas, mas a grande maioria opera com metade da capacidade ou menos.
O cenário atual para alagamentos é diferente de antes da enchente porque o mesmo volume de chuva que caía no mesmo período há dois meses hoje tem potencial de gerar mais problemas para a população.
Chuva, por exemplo, de 70 mm em apenas um dia neste fim de semana pode causar mais problemas do que os mesmos 70 mm em um único dia até dois meses atrás. Um dos riscos com assoreamento é o transbordamento com maior facilidade de transbordamento de arroios que cortam as cidades com inundações.
As enchentes levaram muita terra e lixo para as redes de esgotos, afetando a macrodrenagem urbana, tal como se viu nos grandes alagamentos em Porto Alegre no aguaceiro de 23 de maio.
Adverte-se ainda para o risco de deslizamentos de terra e queda de barreiras, sobretudo em áreas de relevo como a Serra Gaúcha, onde o solo ainda está instável pelo excesso de precipitação do fim de abril e em maio.
Com os volumes altos indicados pelo modelos, rios também devem se elevar. Merecem atenção as bacias do Uruguai, Jacuí, Taquari, Caí, Sinos e Gravataí, e por efeito o Guaíba em Porto Alegre. Só que não haverá transbordamento destes mananciais neste domingo.
A sequência de dias com chuva, incluindo os altos volumes deste domingo, podem levar a cheias mais tarde nesta semana em algumas ou todas estas bacias, mas só com dados de chuva ocorrida (onde e quanto choveu) poderá se precisar o nível de risco para cada rio.
Mesmo assim, exclusivamente com base nas projeções, já se pode dizer que a pergunta não é se o Rio Grande do Sul voltará ou não a ter cheia de rios, e sim qual será o tamanho. Sabe-se que não serão como as de maio, mas não tendem a ser pequenas e alguns rios podem se elevar acentuadamente.
Fonte: CP