Quem disse que são inimigos? Partidos de Lula e Bolsonaro se unem para disputar eleições em 85 cidades do País
O PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apoia 12 candidatos a prefeito filiados ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições municipais deste ano. A sigla de Bolsonaro, por sua vez, está no palanque de três concorrentes do PT a prefeituras. Os municípios onde as alianças ocorrem são pequenos em população, com realidades distantes da polarização ideológica travada pelas legendas em Brasília.
Ao todo, o PT e o PL vão estar em coligações de 85 cidades. Em geral, os municípios são pequenos e do Nordeste. Quando não estão trocando apoios, as siglas de Lula e Bolsonaro integram chapas encabeçadas por legendas do Centrão.
Dos 12 candidatos do PL que serão apoiados pelo PT, seis buscam comandar prefeituras do interior do Maranhão. A outra metade concorre em municípios de Sergipe, Paraná e São Paulo. Os três candidatos do PT que vão receber políticos da sigla de Bolsonaro no palanque são do Piauí e do Maranhão.
As cidades onde o PT e o PL trocam apoios tem uma média de 30 mil habitantes cada uma. Somados, os 15 municípios possuem uma população de 450 mil pessoas. A quantidade é a mesma de moradores da zona central de São Paulo.
O maior município onde há uma aliança direta é Itabaiana (SE), que possui 75.568 eleitores. Lá, o PT apoia a candidatura de Valmir de Francisquinho (PL). Ele governou a cidade entre 2013 e 2022 e foi candidato ao governo de Sergipe em 2022, mas teve o registro indeferido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Nos municípios maranhenses de Estreito e Viana, a dobradinha PT e PL é uma repetição de 2020. Os petistas apoiaram os prefeitos Leo Cunha e Carrinho Cidreira, que estavam no partido presidido por Valdemar Costa Neto no último pleito. Os dois permaneceram na sigla após a chegada de Bolsonaro e mantiveram a sigla de Lula no palanque.
A professora Mayra Goulart, que coordena o Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom), analisa que, nos municípios pequenos, as adversidades entre partidos em nível nacional costumam ser deixadas de lado devido ao contexto eleitoral de cada região. Segundo ela, o candidato vitorioso precisa ter uma aproximação com o eleitor, em detrimento de uma bagagem ideológica.
“A expectativa que o cidadão tem, em relação à política municipal, é muito mais concreta do que aquela que ele tem ao político que está lá em Brasília. A eleição municipal tende a refletir demandas da cidade e isso faz com que os alinhamentos e as discussões nacionais, que possuem um conteúdo ideológico mais profundo, sejam deixadas de lado”, afirmou.
Os dois partidos dividem a mesma coligação em 70 candidaturas encabeçadas por outros partidos. A maioria dos concorrentes que terão PT e PL no palanque é do PSD (19) e do MDB (16). Há também postulantes a prefeito do PP (6), União Brasil (5), PDT (5), PSB (5), PSDB (4), Podemos (2), Avante (2), Republicanos (2), PCdoB (1) e PV (1).
Em oito municípios onde o PT e o PL estão na mesma coligação, o candidato apoiado pelas siglas é um prefeito que disputa a reeleição sem ter adversários. Ou seja, dependem apenas de um voto válido para se reeleger. Os partidos estão unidos em apenas duas cidades que possuem mais de 200 mil eleitores e que, por isso, podem ter segundo turno nos pleitos deste ano.
Em São Luís, capital do Maranhão, PT e PL apoiam a candidatura do deputado federal Duarte Júnior (PSB). Em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, as legendas estão unidas na campanha de reeleição do atual prefeito José Aprígio (Podemos).
Na Grande São Paulo, a aliança é motivada pela boa relação do prefeito atual com lideranças regionais dos dois partidos. O palanque que coloca PT e PL juntos está firmado ao lado da cidade de São Paulo, onde Bolsonaro e Lula vão disputar um “terceiro turno” das eleições de 2022 a partir dos apoios dados ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) e ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). (AE)
Fonte: O Sul