Antes mesmo da posse em 20 de janeiro, o presidente americano eleito, Donald Trump, incluiu o Brasil em suas ameaças sobre cobrar mais tarifas de países que exportam para os Estados Unidos, ou seja, “sobretaxar” fabricantes de outras nações que embarcam para lá seus produtos. Trump diz que assim protege o que é produzido em seu país, “garantindo” que os empresários norte-americanos não fiquem em desvantagem frente aos preços de produtos de fora. “A Índia cobra muito, o Brasil cobra muito. Tudo bem, mas vamos cobrar a mesma coisa”, enfatizou. Em seu primeiro governo (2017-2021), anterior ao do democrata Joe Biden, o republicano também pressionava o Brasil.

“É uma estratégia calculada para causar constrangimento antes mesmo de abrir qualquer negociação”, afirma Gustavo Moraes, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS. E quanto ao Brasil cobrar taxas altas dos americanos, Moraes faz observações. “De fato o Brasil taxa exageradamente alguns produtos, e eu vou citar aço e carros, o regime automotivo continua valendo desde 2012, e essa é a razão pela qual montadoras importantes do mundo se instalaram no Brasil. A única maneira de acessar o mercado brasileiro com vantagem seria instalando uma fábrica local, e esse regime é a justificativa para a alta taxação apontada por Trump”, detalha.

Moraes ainda lembra que Elon Musk, dono da Tesla, fabricante de veículos, foi um dos financiadores da campanha. O economista também assinala que quando Trump cita nominalmente o Brasil, “cria constrangimento para Lula, adversário global ideológico”. Ameaças em tom similar são feitas à China, uma república socialista, e ao México, governado pelo partido Morena, de esquerda.

Outro economista faz referência a itens de metal. “Aço, ferro, metalurgia. Há demanda histórica das metalúrgicas de lá, ou siderúrgicas”, diz Jorge Ussan, professor da Escola de Negócios da Fadergs. Quando Trump discursa sobre taxas maiores, observa ele, “acena para uma parte importante de lá, que é a siderurgia americana, historicamente menos produtiva que a dos brasileiros”.

Na prática

Quanto ao Brasil sobretaxar os EUA como revanche às falas de Trump, Jorge Ussan considera pouco provável. “Nossa pauta de importação tem máquinas, combustíveis, e é importante para a indústria brasileira”, diz.

Em um passado recente o Brasil teve um “alívio” nas taxas. No início do ano os EUA deixaram de cobrar adicional de 103% na importação de tubos soldados de aço não-ligado.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, de janeiro a novembro a exportação de itens em geral para os Estados Unidos somou 36,57 bilhões de dólares (R$ 219 bilhões), 11,7% da venda externa.

Para a China o valor exportado é bem maior e alcança 89,4 bilhões de dólares, o que representa 28,6% da venda externa.

As falas de Trump não teriam maior efeito sobre o Brasil se analisados os números. De tudo que o Brasil exporta, 11,7% vão para os EUA. E desta fatia, o ramo de metal, mais exposto ao debate, representa um terço, o que seria pouco mais de 3%.

Resta agora esperar Trump tomar posse. O que é possível prever é que o discurso sobre taxar outros países poderia acabar em algum tipo de desabastecimento em território americano, por mais que a economia de lá seja forte.

Fonte: CP

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