Deportações em massa criam desafio ao Brasil
Donald Trump parece disposto a cumprir as promessas de deportar milhões de pessoas que vivem nos Estados Unidos ilegalmente e aumenta a pressão sobre a América Latina, origem da maior parte desses imigrantes sem documentos. Estima-se que 230 mil brasileiros se insiram na classificação e o governo Lula terá um desafio pela frente: se equilibrar entre a necessidade de garantir a integridade dos seus cidadãos e as ameaças do republicano.
Analistas consultados pelo Estado avaliam que a retórica agressiva e midiática de Trump é o início de uma relação muito conflituosa com a América Latina. Em paralelo, a dureza das operações para deter imigrantes ilegais está semeando pavor na comunidade brasileira nos EUA, segundo advogados especializados no tema.
“Para Trump é interessante não só deportar imigrantes em larga escala, mas também esse tipo de ação muito rigorosa e até teatral. Porque ele quer passar a mensagem de que as pessoas não devem migrar para os Estados Unidos, a não ser que tenha autorização para isso”, afirma Mauricio Santoro, doutor em ciência política e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marina.
No fim de semana, o presidente americano protagonizou uma queda de braço com o colombiano Gustavo Petro, que negou a entrada de dois aviões com imigrantes deportados. Ameaçado de tarifas e sanções, Petro recuou e concordou em receber seus cidadãos de volta.
“Foi o primeiro episódio do que será uma relação muito conflituosa de Trump com a América Latina, com o Brasil, Colômbia, México e vários países da região. Esses conflitos atravessam três grandes temas: a imigração, o comércio e a presença da China na região”, aponta Santoro. O aumento do comércio com a China, afirma, poderia contornar eventuais sanções americanas, mas nenhum país latino teria condições de virar as costas para os EUA.
“A China pode ser um contrapeso aos Estados Unidos em alguns setores, em outros não. A capacidade de investimento americano, por exemplo, é muito maior. Nenhum país da América Latina pode ser dar ao luxo de abrir mão da relação com os EUA. Vai ser muito difícil equilibrar a necessidade de defender os interesses nacionais sem cair nas provocações de Trump. Até porque há pressões e divisões ideológicas internas. Aqui no Brasil, por exemplo, muitas pessoas defenderam as deportações”, conclui.
Fonte: O Sul