Partidos do Centrão dão sinais de afastamento de Lula, e entendimento para as eleições de 2026 se torna mais difícil

A pouco mais de um ano do início do período eleitoral, alas importantes de partidos do Centrão, que compõem a base do governo no Congresso, dão sinais de distanciamento, indicando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá dificuldades para alargar o arco de alianças além dos limites do pleito passado.
A confirmação da federação entre União Brasil e Progressistas, o flerte do PSD com uma candidatura própria à Presidência e o movimento do ex-presidente Michel Temer para criar uma aliança de governadores de oposição para 2026 ilustram os percalços que Lula terá para forjar, até o próximo ano, um grupo mais parrudo de partidos aliados.
A cúpula do União Progressista já fala abertamente em apoiar um candidato de centro-direita. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro e presidente da federação, diz que defenderá a saída do governo dos quatro ministros do bloco até o fim deste ano. Para ele, é preciso que haja clareza sobre o lado em que os dois partidos estarão na próxima corrida presidencial e não será o do PT.
Presidente do União Brasil, Antônio Rueda concorda com o colega e, em entrevista na semana passada, criticou o governo Lula. O dirigente disse que, por uma estratégia própria, a gestão atual se fechou no PT. Em sua legenda, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, lançou sua pré-candidatura ao Planalto e tenta se viabilizar.
Mesmo com três ministérios na administração Lula e uma ala pró-governo mais vocal no Congresso e em diversos estados, o PSD começou a especular sobre lançar um nome ao Planalto no ano que vem. A mensagem veio do presidente da sigla, Gilberto Kassab, ao filiar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Junto com o gaúcho, o nome do governador do Paraná, Ratinho Júnior, foi citado por ele como “presidenciável”. O próprio Kassab tem aliança com Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, onde atua como secretário de Governo.
No Republicanos, partido do governador paulista, as chances são extremamente remotas de um acordo com Lula. A preço de hoje, a ideia é que a legenda faça como em outros anos: apoie um candidato de direita e libere o diretório de Pernambuco, do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, para seguir com o PT.
Atento às movimentações da direita, o ex-presidente Michel Temer, do MDB, decidiu tentar articular uma aliança entre governadores para se opor a Lula. Fariam parte dela Tarcísio, Ratinho, Caiado, Leite e Romeu Zema (Novo-MG). A ideia seria discutir programas e, lá na frente, convergir no apoio a um nome do grupo.
Ainda que não avance, a iniciativa demonstra como há nomes no campo oposto ao de Lula dispostos a investir em tratativas que levem os nomes de centro em direção à direita, afastando-o do petista.
No MDB, o grupo de Temer em São Paulo fará força para que a legenda não caminhe com Lula, repetindo movimento que fez com que, em 2022, a sigla acabasse lançando candidatura própria, com Simone Tebet. O problema é que a agora ministra do Planejamento já disse que estará no palanque de Lula. Ela se soma a um grupo de lideranças de peso do MDB, como as famílias Calheiros e Barbalho, que têm representantes no governo, ascendência em seus estados e trabalharão para caminhar com o petista.
Ministros do governo ouvidos sob reserva admitem que o cenário é adverso e notam que mesmo o apoio do PDT, até outro dia dado como certo, terá de ser trabalhado diante do escândalo do INSS, cuja operação da Polícia Federal descobriu descontos indevidos em aposentadorias e pensões. O presidente do partido, Carlos Lupi, teve de pedir demissão do cargo de ministro da Previdência, o que o levou a especular um caminho alternativo para a legenda em 2026.
Ainda assim, auxiliares de Lula lembram que há movimentos importantes em curso e outros que ainda podem ser feitos pelo presidente para mudar a situação de desvantagem.
O primeiro deles é o uso da máquina pública. De um lado, atrair os partidos com cargos segue no campo de visão do entorno de Lula. De outro, há a aposta de que algumas medidas, como a gratuidade da conta de luz e a isenção do imposto de renda para quem ganha acima de R$ 5 mil, podem elevar a popularidade do presidente até o próximo ano, melhorando a atratividade do apoio para alguns campos do Centrão. O segundo movimento é a aposta na divisão partidária, com costuras estaduais feitas pelo petista que inviabilizem o acerto da cúpula das legendas do centrão com o campo bolsonarista.
Fonte: O Sul