Estudo mostra que um terço dos municípios brasileiros enfrenta desabastecimento de vacinas

O País segue com um grave problema de desabastecimento de imunizantes. A terceira edição do estudo “Falta vacina para proteger as crianças brasileiras”, da Confederação Nacional de Municípios (CNM), realizada entre os dias 11 de abril e 14 maio deste ano, aponta que 33,7% dos 1.490 municípios brasileiros pesquisados enfrentam falta de vacinas.

O imunizante contra varicela (catapora) está em falta em 32% dos municípios, sendo que em parte deles o desabastecimento já dura mais de 90 dias.

O levantamento aponta, ainda, que a cobertura vacinal contra varicela caiu para 74,46%, bem abaixo da meta de 95%. A vacina tetraviral, que protege também contra sarampo, caxumba e rubéola, apresenta escassez em 16% das cidades.

O imunizante contra a Covid-19 segue insuficiente em parte do País, segundo o levantamento — em 9% dos municípios faltam doses para adultos, e em 8%, para crianças. O estudo associa a escassez dessas vacinas ao aumento das infecções por Covid —que representam 18,6% dos 50.090 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) registrados em 2025—, uma vez que o imunizante reduz o risco de hospitalização e morte.

Outros imunizantes essenciais, como contra dengue (em falta em 8% dos municípios), meningite meningocócica e poliomielite, também enfrentam problemas de abastecimento, colocando em risco décadas de avanços na imunização e deixando principalmente as crianças vulneráveis a surtos de doenças evitáveis, diz a CNM.

De acordo com o Ministério da Saúde, o fluxo de distribuição de vacinas no Brasil segue um modelo: a pasta adquire e envia os imunizantes aos estados, que por sua vez os repassam aos municípios conforme a demanda local. Quando um município identifica falta de vacinas, o caminho é acionar a Secretaria Estadual de Saúde, pois os pedidos são feitos pelos estados com base em suas projeções de necessidade.

“No passado, tivemos muito problema com fornecedor, inclusive privado, que não estava cumprindo com o cronograma do ministério. Mas a própria CNM reconhece que melhoramos”, afirma Eder Gatti Fernandes, diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações da pasta.

Quanto ao abastecimento nacional, o Ministério da Saúde afirma que mantém os estoques regulares para a grande maioria das vacinas do calendário nacional. A única exceção atualmente diz respeito à vacina contra varicela, cujo desabastecimento decorre de limitações na capacidade produtiva do laboratório fornecedor, afirma o ministério. A pasta diz ainda que já realizou a compra e aguarda a entrega conforme o cronograma contratual. Para todas as demais vacinas, incluindo Covid-19, DTP e meningocócica C, não há registro de desabastecimento nos estoques centrais.

“Nos últimos tempos, o Brasil tem enfrentado alguns surtos de doenças que já haviam sido eliminadas através da vacinação e outras que correm o risco iminente de reintrodução, como a poliomielite (paralisia infantil). Tal cenário traz de volta o risco de aumento da morbimortalidade infantil em decorrência de doenças imunopreveníveis, em razão das baixas coberturas vacinais”, afirma o estudo.

Em Minas Gerais, Estado em que a situação é mais crítica, 51% dos municípios têm falta de vacinas e surtos de SRAG —são cerca de 8.800 casos em 2025, sendo 4.349 em crianças de 1 a 9 anos.

Os municípios também enfrentam desafios logísticos que agravam a crise na imunização. Em 32% das cidades, as doses chegam com prazo de validade curto, dificultando a aplicação a tempo. A baixa procura por vacinas (27% dos municípios) também leva a desperdício de doses.

O Ministério da Saúde afirma que estabelece como regra a distribuição de vacinas aos estados somente com validade mínima de seis meses. A pasta adota um controle no recebimento dos imunizantes, estabelecendo em contrato um limite para aceitação de vacinas com prazo de validade reduzido em relação à data de fabricação.

“A regra dos seis meses considera desafios logísticos regionais, especialmente em estados do Norte, onde o transporte das capitais até municípios mais distantes pode levar vários dias”, completa o diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações.

“O Brasil está melhorando cobertura vacinal”, afirma. Ele cita que o maior desafio está sendo as vacinas de campanha como a influenza e as faixas etárias de adultos e idosos. “A procura de vacinação tem sido menor”.

O Ministério da Saúde destaca que tem ocorrido um aumento anual progressivo na vacinação especialmente no calendário infantil, que concentra as principais imunizações e o maior volume de doses distribuídas. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

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