Disputa por cargo de governador agita PT gaúcho

Às vésperas da escolha do novo comando partidário e do diretório que estarão à frente da sigla nas eleições de 2026, uma disputa interna paralela divide as atenções dos petistas gaúchos: a definição sobre quem será o candidato do partido ao governo do RS no próximo ano. De um lado, trabalha para confirmar sua indicação ao posto o atual presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto. De outro, ganhou tração nos últimos dois meses o nome do deputado federal e ex-ministro Paulo Pimenta.

Em público, lideranças petistas de diferentes alas tentam minimizar a intensidade da ‘peleia’. O receio é o de que uma disputa aberta atrapalhe ainda mais um cenário que já indica que a corrida de 2026 será acirrada no RS. O entendimento majoritário é o de que tudo o que o PT não precisa é entrar dividido na campanha. Nos bastidores, contudo, parlamentares e lideranças estaduais já começaram a fazer cálculos e encaminhar posições.

Um acordo firmado logo após as eleições de 2024 havia ungido Pretto para a corrida ao Piratini. Na época, Pimenta, então ministro, se apresentou para concorrer a uma das duas cadeiras ao Senado. Uma série de situações ocorridas nos sete meses que se passaram desde então culminou na tensão atual. Primeiro, em janeiro, Pimenta foi demitido do ministério. Parte do PT no Estado passou a avaliar que a saída prejudicou suas pretensões ao Senado e que ele poderia optar por concorrer à uma reeleição dada como certa para a Câmara dos Deputados.

Depois, no final de março, dois fatos cristalizaram a possibilidade de fissura na hegemonia que até então Pretto mantinha pela indicação ao governo. A ex-deputada Manuela D’Ávila, que deixou o PCdoB, foi convidada a entrar no PSol ou no PT, e disputar uma das vagas ao Senado dentro de uma aliança. E uma pesquisa encomendada pelo grupo de Pimenta apontou que ele seria mais competitivo para o governo.

Desde então, a cizânia se estabeleceu nas hostes petistas. Há quem defenda que seja mantido o plano original, com Pretto ao governo, e dois nomes fortes para o Senado: Pimenta em uma das vagas e Manuela na outra. A ex-deputada, contudo, já fez chegar ao PT o entendimento de que sua chapa ideal tem o ex-ministro na corrida pelo Piratini, tese encampada por várias parcelas do partido. Nesse caso, um petista com capacidade de atrair votos, mas não o suficiente para atrapalhar o desempenho de Manuela, ou um nome de outra legenda aliada, ocuparia a segunda vaga ao Senado. No PT, hoje, quem ‘aquece no banco’ para o caso de a segunda vaga ‘sobrar’ é o ex-prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi.

Vontade de Lula e caminho de Eduardo Leite podem alterar cenário

Nem o deputado federal Paulo Pimenta e nem o presidente da Conab, Edegar Pretto, escondem que estão em pré-campanha aberta para integrar a chapa majoritária nas eleições estaduais em 2026. A diferença é que, até o momento, Pretto admite apenas concorrer ao governo, enquanto Pimenta não fechou a porta nem para o Senado e nem para a reeleição à Câmara Federal.

Outra diferença é que Pimenta, concordam integrantes de seu grupo político, apoiadores e também oponentes dentro da sigla, está em vantagem. Ele hoje tem um conjunto de forças mais robusto dentro do diretório gaúcho, que tende a se consolidar após a renovação dos comandos partidários. Assim, o rumo a ser seguido pelo deputado vai determinar o futuro do presidente da Conab, e não o contrário.

Na equação, além das pretensões de ambos, dois outros fatores são considerados determinantes: a vontade do presidente Lula e a definição do governador Eduardo Leite (PSD). Se Leite conseguir entrar mesmo na corrida presidencial, Pimenta pode voltar a considerar o Senado com mais apreço.

“Até este momento, o Edegar desponta como candidato a governador, e pode continuar sendo. Mas tanto ele como o Pimenta têm estatura e voto para estarem na linha de frente da majoritária. A avaliação do partido se dará sobre o potencial eleitoral de cada um mais próximo do momento da campanha. Entendo que isso vai acontecer até o final do ano”, estima a deputada federal Maria do Rosário.

“O Edegar está habilitado pela bela campanha que fez em 2022. O Pimenta é uma figura muito bem construída. E o partido tem suas réguas para definir a candidatura ao governo. Então, se for esse o entendimento, poderá até realizar prévias”, conclui a deputada estadual Sofia Cavedon. Para a presidente do PT na Capital, deputada Laura Sito, o ideal é que a decisão aconteça até setembro. “Como vamos encaminhar as alianças e negociações com outros partidos, pleiteando a cabeça de chapa, sem ter o nome decidido? Precisamos definir”, afirma.

Pré-candidatos testam estratégias nas redes sociais

Desde meados de maio, quem acompanha o deputado Paulo Pimenta nas redes notou que ele voltou a intensificar a presença em pautas muito mais associadas a disputa local do que para um mandato em Brasília. Foi assim na semana passada, quando, entre outras agendas, acompanhou o terceiro turno de atendimento no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), e se reuniu com entidades de servidores da segurança pública. Os apoiadores do parlamentar defendem ainda que suas boas relações com setores do empresariado podem fazer a diferença na conquista de setores ao centro.

O presidente da Conab, Edegar Pretto segue uma linha diferente, mais ‘raiz’, segundo seus apoiadores. Além da vinculação com a agricultura familiar, o estilo busca resgatar um ideário dos tempos áureos do PT no RS, identificado também com eleitores de pequenos e médios municípios e os valores ‘do gaúcho’. Neste fim de semana, por exemplo, Pretto deu destaque em suas redes à viagem que fez a São Luiz Gonzaga para os festejos de aniversário do ex-governador Olívio Dutra (ele fará 84 anos na terça). Desde a campanha de 2022, o presidente da Conab trabalha para vincular sua imagem à de Olívio e os padrões que ela representa.

Fonte: CP

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