Thiago Maia: de quase fora do Inter à solução para Roger Machado

A simbólica lágrima escorrida do rosto em tom de brincadeira de Roger Machado durante bate-papo com a reportagem do CP na semana passada lamentando a ausência de Fernando tem uma explicação. Na verdade, mais de uma. A perda do volante experiente no meio-campo do Inter imediatamente obrigou o treinador a mexer em uma de suas armas. O próprio técnico havia dito anteriormente que o revezamento de Thiago Maia com Bruno Henrique durante as partidas garantia uma marcação mais intensa.
Agora, porém, enquanto um substituto do camisa 5 não chega, a readaptação terá um custo, no mínimo físico. Sábado contra o Vitória foi apenas a primeira partida no Brasileirão que o novo titular atuou todo o tempo.
O Mundial de Clubes reforçou uma ideia já implementada nas grandes equipes europeias de que os jogadores do meio de campo precisam ‘fazer tudo’: construir, marcar e concluir. “Se fosse o Chelsea com a camisa do Inter iriam dizer que foi retranqueiro com três volantes. E ao contrário, ele afogou a saída de bola do PSG. (…) Você precisa de pressão, amplitude e jogo entre as linhas. É o que o Inter está fazendo também”, opina Paulo Vinícius Coelho, colunista do UOL, durante o torneio nos Estados Unidos.
Dos 13 jogos do Inter no Brasileiro, Thiago Maia ficou de fora no começo quando estava com um pé no Santos de Neymar. O negócio frustrado para a Vila Belmiro resultou na perda da posição para Bruno Henrique. O camisa 29 atuou mais quando Roger escalou reservas, mas sempre jogou. Na Libertadores o cenário foi parecido. Dos seis jogos, não atuou em dois, entrou em outros dois e foi substituído em outros dois também.
“Na época dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, eu perguntei ao Marquinhos, capitão do PSG, qual brasileiro ele contrataria. A resposta foi ‘Thiago Maia’. Ele deixou uma imagem aqui de um jogador sério e que atuava mais de 5 do que 8, mas acho que não teve a trajetória tão positiva como a gente poderia imaginar”, conta Eric Frossio, jornalista do jornal L’Equipe, da França.
No time do Brasil campeão olímpico em 2016, Maia, então no Santos, perdeu a posição durante o torneio para Wallace, volante hoje no Cruzeiro, mas conseguiu ser vendido depois. Não ao PSG, mas ao Lille onde ficou por três anos, antes de voltar ao Brasil, no Flamengo. “Na época no Santos o Dorival Júnior era o treinador. Ele sempre gostou de montar o time de forma ofensiva. E ter um volante de marcação e capacidade de saída de bola é algo que facilitava para que a bola chegasse com mais qualidade ao meia”, relembra Felipe Camargo do Canal De olho no Peixe.
Aos 29 anos, Thiago Maia se vê diante de um novo desafio na carreira. Substituir um dos pilares da espinha dorsal do time de Roger e entregar fisicamente o que hoje o futebol exige. Comprometido com o time, certamente o torcedor não lamentará por não ter ali um Enzo Fernández, do Chelsea, um Vitinha do PSG ou um De Paul, do Atlético de Madrid. Por ora, é preciso primeiro atender a urgência imposta pela lesão do companheiro.
“Ele tem o hábito da função. (…) Me dá uma alternativa diferente da do Ronaldo que se assemelha mais ao Fernando como um protetor da defesa, às vezes entrando para a linha de cinco”, disse Roger, no sábado.

Fonte: CP