Em alta desde março, dívida pública do Brasil atinge 76,6% do PIB e já repete dezembro de 2024

Depois de cair no início deste ano, a Dívida Pública do Governo Geral (DBGG) vem subindo desde março e superou o patamar registrado no fim de 2024, chegando a 76,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em junho. Os dados foram publicados pelo Banco Central (BC).
Em dezembro de 2024, a dívida estava em 76,5% do PIB. O principal efeito para a variação no ano foram os juros nominais, que adicionaram 4,3 pontos percentuais (p.p.) do PIB ao indicador. O principal indexador da dívida é a Selic e, de dezembro para junho, a taxa básica de juros subiu de 12,25% ao ano para 15% ao ano.
Por outro lado, o crescimento do PIB nominal contribuiu para queda de 3,2 p.p. do indicador. Como o PIB é o denominador do indicador, quando há um aumento da atividade, o impacto é baixista na relação dívida/PIB. No caso do primeiro trimestre, o PIB cresceu 1,4% em relação ao mesmo período de 2024.
Já o resultado do segundo trimestre ainda não foi publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), conhecido como uma prévia do PIB, apontou para um crescimento de 3,4% no ano até maio, com desaceleração nos últimos meses.
O BC ainda apontou outros dois fatores que reduziram a alta do indicador: a valorização cambial, com impacto de 0,5 p.p., e os resgates líquidos da dívida, com mais 0,5 p.p. O dólar terminou 2024 cotado em R$ 6,18 e variou ontem ao redor de R$ 5,60.
A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, apontou que a elevação da dívida pública é resultado de déficits primários recorrentes que ocorrem desde 2023 e do agravamento da percepção de risco pelo “arcabouço mais frouxo”. A estimativa do banco é que a dívida continue subindo mesmo com surpresas positivas do PIB e inflação mais alta. “A relação dívida pública deve chegar a 78% do PIB em 2025 e 82% em 2026, o que significa que no governo Lula vamos ter uma elevação de 10 p.p. na dívida/PIB”, apontou.
Jeferson Bittencourt, head de macroeconomia do ASA, afirmou que o superávit primário do setor público de R$ 22 bilhões do primeiro semestre, com superávit de R$ 40,6 bilhões pelos governos regionais, conteve parte do crescimento. “Por outro lado, mais que compensou este superávit primário a incorporação de uma taxa de juros mais alta.”
A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), conceito mais abrangente de endividamento por considerar ativos e passivos financeiros além do setor público como um todo, chegou ao maior patamar da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2021. De maio para junho, o indicador subiu de 62% para 62,9% do PIB.
O chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, explicou que dois fatores principais afetaram o indicador em junho. O primeiro seria o déficit nominal registrado no mês, de R$ 108,107 bilhões e a segunda foi a apreciação cambial de 4,4%. “Como o setor público brasileiro é credor em moeda estrangeira, essa apreciação cambial significa um aumento da dívida líquida”, disse. Por outro lado, o crescimento do PIB contribuiu no sentido contrário, com efeito de queda de 0,4 ponto percentual.
O Banco Central também divulgou o resultado primário do setor público consolidado referente ao primeiro semestre com superávit de R$ 22 bilhões. O número, que considera governo central, governos regionais e empresas estatais, é maior do que o déficit de R$ 43,4 bilhões do mesmo período de 2024.
O resultado é impactado pela mudança de calendário dos pagamentos de precatórios. Enquanto no ano passado, os pagamentos foram feitos no primeiro semestre, neste ano estão sendo realizados ao longo de julho. Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, informou na quarta-feira, R$ 63,3 bilhões devem ser pagos em julho.
Para Vitória, mesmo incluindo o pagamento de precatórios no primeiro semestre o déficit acumulado do ano seria melhor do que em 2024. A economista aponta que o crescimento de gastos está “mais contido” em cerca de 2% acima da inflação. Para orestante do ano, ela aponta que, caso o governo “não mantenha a maior disciplina”, os gastos podem a acelerar. (Com informações do Valor Econômico)
Fonte: O Sul