Sai a política e entra a diplomacia

“Relações internacionais não podem ser comprometidas por questões políticas e ideológicas. Independentemente de quem está no poder, saber se relacionar é criar um diálogo de cooperação entre as partes”
O Brasil está vivendo uma tempestade de acontecimentos negativos que têm impactado diretamente os negócios. A começar pela discussão com os Estados Unidos, importante parceiro comercial em diversos setores da nossa economia. Sabemos, desde cedo, que brigar com quem pode mais não levará a lugar algum. E, como um país de terceiro mundo em desenvolvimento e com fragilidades a serem superadas, precisamos, sobretudo, ter bom senso também nas dificuldades, quiçá em momentos de crise como o que estamos vivendo.
O tarifaço ao Brasil, imposto pelo presidente americano Donald Trump, é um exemplo real da falta de trato nas negociações. Falta ao Brasil habilidade política e comercial. Por mais injustas que sejam as sanções e, principalmente, a forma, misturando política e negócios, é necessário separar as questões e buscar negociar as tarifas no plano comercial, de forma que gerem menos impactos na economia brasileira. Não se pode misturar ideologias com negócios, ser racional nessas relações é essencial. Caso contrário, os resultados são esses que estamos presenciando de mãos atadas e assistindo ao declínio do país em meio a uma negociação comercial com o gigante Estados Unidos.
Agora, mais do que nunca, a diplomacia precisa entrar em cena. É com ela na mesa de negociações que protegeremos os empregos e as pequenas e médias empresas, mitigando os impactos do tarifaço sobre os brasileiros. Negociar concessões de ambos os lados, independentemente de quem está no poder, oferece um campo amplo para comercializações.
É preciso pensar nas pequenas e médias empresas, na economia e nos impactos sobre a população e procurar reduzir os danos. Negociar concessões de ambos os lados, independentemente de quem está no poder, oferece um campo amplo para comercializações. Essas barreiras comerciais afetam a todos, e a população é quem vai pagar a conta, ainda mais cara.
Equilíbrio é a chave. Relações internacionais não podem ser comprometidas por questões políticas e ideológicas. Independentemente de quem está no poder, saber se relacionar é criar um diálogo de cooperação entre as partes.
Recentemente, um relatório do Economic Highlights, divulgado por um grande banco brasileiro, revelou que a decisão de Donald Trump em aumentar em 50% as tarifas sobre importações brasileiras deveria causar a redução de US$ 15 bilhões (0,6% do PIB) das exportações brasileiras, representando uma perda de US$ 13,6 bilhões, quando comparado com a tarifa anunciada anteriormente, que seria de 10%. Esses números comprovam como a falta de diálogo e diplomacia pode comprometer as relações comerciais de nações e trazer prejuízos para a balança comercial brasileira.
E a única saída que vejo para reverter essa situação é um diálogo diplomático com o presidente americano. Diplomacia é a palavra-chave para essa negociação e um meio para tirar o Brasil dessa crise. Sai a política e entra a diplomacia. Afinal, um chefe de Estado não tem lado, não tem partido, não defende outros políticos e, muito menos, interesses pessoais, ele age com circunspecção e destreza. Sua posição requer habilidade e sensatez para administrar conflitos e preservar os interesses do país.
Diversos setores brasileiros têm se manifestado por meio de cartas oficiais ao presidente americano pedindo que determinados produtos sejam excluídos da lista. Entre alguns dos produtos mais atingidos pelo tarifaço, estão o café, a carne, a madeira, os pescados, as frutas e equipamentos para a construção civil. Muitos negócios estão enfrentando a alta dos juros, e a insegurança jurídica tem prevalecido. Não só isso, empregos também estão em risco pela falta de diplomacia do governo brasileiro. O Brasil perde competitividade, os pequenos e médios empresários têm seus negócios fadados, e a população perde sua renda.
Está cada vez mais inviável sustentar um negócio no Brasil. Como sociedade, só estamos assistindo a empresas indo embora, fechando suas operações e deixando órfãos os trabalhadores brasileiros. Precisamos nos unir para que o governo brasileiro se posicione como um estadista em defesa do país.
As autoridades brasileiras precisam assumir o leme e defender os interesses comerciais do Brasil. A polarização política no Brasil, assim como em outros países, sempre vai existir. Entretanto, a diplomacia é universal e deve ser conduzida com coerência e habilidade. Somente dessa forma, é possível construir relações estáveis sem que haja prejuízos comerciais e econômicos.
Fonte: Diário do Comércio