“Nunca houve tanta interferência dos governos no mercado”, diz o presidente do Banco Central
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que ouviu nas reuniões em Washington, na semana passada, que o mercado está bem, mas que nunca houve tanta interferência dos governos no mundo.
Segundo Campos Neto, o mercado tem uma percepção de que, com qualquer problema, os governos vão resgatar. “O problema é que os resgates todos são feitos com dívida e, globalmente falando, estamos com menos espaço para isso.”
O presidente do BC ressaltou que é necessário achar soluções privadas para sair dessa crise. “Estou falando globalmente e o Brasil também.”
Questionado sobre a Bolsa, Campos Neto ressaltou que, se comparar o índice S&P 500 com o Russel, “que é uma coisa sem inovação, sem tecnologia, mais parecida com a bolsa do mundo emergente, abriu uma diferença muito grande. O que tem subido na bolsa é inovação”.
Na comparação da bolsa com mercados emergentes, Campos Neto ressaltou que o Brasil está um pouco pior, mas não tanto. “Mas o Brasil teve peculiaridades, bastante peso de empresas estatais, teve tema de ruído do governo nas estatais. Tem um tema pesando um pouco que são os juros mais altos, então tem uma taxa de desconto mais alta”.
O presidente do BC ainda disse que há perspectiva de que o risco de prêmio que entra na bolsa pela parte fiscal tem “piorado um pouquinho também”. Campos Neto pontuou que a NTN-B longa paga acima de 6%, e isso explicaria “um pouco” por que a bolsa não sobe.
“Você tem uma âncora pesada para carregar. As pessoas para emprestarem dinheiro para o Brasil no longo prazo estão cobrando taxa de juros real de 6%, isso não tem nada a ver com BC, isso é uma percepção de risco Brasil”, disse.
O presidente do BC afirmou que o tema fiscal ficou mais importante no mundo e isso também vai impactar o Brasil. Segundo ele, o risco global, e no Brasil também, vai “estar atrelado à questão da sustentabilidade da dívida”.
Campos Neto pontuou que, quando há muita liquidez, “as pessoas são muito mais complacentes com o fiscal”, mas, quando o ambiente mundial é de olhar com mais atenção para o fiscal, “é como se você precisasse tirar uma nota maior para passar de ano”. O presidente do BC ressaltou que ficou importante ter transparência sobre o tema.
Ele disse que no Brasil é “superdifícil” cortar gastos. ”É bastante fácil falar, mas, quando você chega lá, você sabe, tem Orçamento engessado, você precisa desobrigar, desindexar, não consegue e no final o discricionário é parte pequena do Orçamento.”
Campos Neto ressaltou que alguns países emergentes estão fazendo ajustes fiscais mais ambiciosos e citou Chile e Peru.
Falando sobre o tema, o presidente do BC citou um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre endividamento, juros (crescimento da dívida) e quanto o país tem de impostos sobre o PIB. “Quando olha a análise tridimensional, no mundo emergente, o Brasil é dos piores. Por quê? Tem uma dívida elevada, tem uma carga de imposto sobre PIB já elevada, então tem pouco espaço e, dentro do que você consegue fazer de corte de despesa, é o mais rígido também.”
FONTE: O SUL.