Reabastecimento de água e temor de mais chuvas: a expectativa de conter a tragédia no RS
O drama das enchentes piorou nesta terça-feira em Porto Alegre e em cidades da região metropolitana, onde a ajuda humanitária começa a chegar em meio à falta de água e novos alertas de tempestade nos próximos dias. A catástrofe já deixou 95 mortos, 131 desaparecidos e 372 feridos, de acordo com a Defesa Civil.
“Os números vão se elevando, mas infelizmente ainda projetamos que ainda tenham um grau elevado de imprecisão na medida em que estamos ainda vivendo a emergência”, disse o governador Eduardo Leite. Serão destinados R$ 200 milhões para atender a emergência, acrescentou o mandatário.
Em mais de 400 municípios afetados, incluindo a Capital, cerca de 160 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas devido às inundações provocadas pelo transbordamento de rios após as fortes chuvas.
Ao longo do dia, carregamentos de ajuda e doações de todo o país chegaram em Porto Alegre, onde “a demanda mais urgente no momento é água”, destacou a tenente da Defesa Civil, Sabrina Ribas.
Em uma “operação de guerra”, a Marinha brasileira enviará nesta quarta-feira para o RS o seu navio “Atlântico”, o maior da América Latina, com duas estações móveis de tratamento de água.
Expectativa de retorno da água
Uma boa parte dos moradores de Porto Alegre pode ter ao menos a expectativa de retorno da água nos próximos dias.
Nesta terça-feira, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) conseguiu reativar as estações de bombeamento de água São João, Menino Deus e Tristeza. Junto com a Belém Novo, agora são quatro unidades de bombeamento operando na Capital, das seis disponíveis.
Secretário pede exoneração
O secretário de Desenvolvimento Social da prefeitura de Porto Alegre, Léo Voigt, pediu exoneração do cargo nesta terça-feira, em meio a pior catástrofe climática na história do Rio Grande do Sul. A pasta será assumida de forma interna pelo adjunto, Jorge Brasil.
Mais um dia de resgates
Em Canoas, os barcos navegaram de um lado para o outro resgatando aqueles que decidiram ficar em suas casas até o último momento ou não puderam ser evacuados anteriormente. Na região, cerca de 15 mil militares, bombeiros, policiais e voluntários trabalham para resgatar as vítimas em aeronaves, embarcações e veículos de todos os tipos.
A logística para distribuir água e suprimentos foi incessante, com “helicópteros chegando e saindo para atender refúgios especialmente nos municípios que colapsaram, enquanto as forças trabalham muito intensamente para desobstrução das vias”, detalhou a tenente Sabrina Ribas.
Na área urbana de São Leopoldo, a água ainda tomava conta de muitas vias, e, em ruas da área central, ela ainda alcançava nesta terça mais de 1m70cm de altura, cobrindo veículos. Veículos da Força Nacional circulam pelo município em auxílio. No bairro São Geraldo, diversas ruas e casas ainda estão debaixo d’água.
No Centro, todas as ruas estão completamente alagadas, mas uma extensa e organizada rede de voluntários, fora as demais autoridades, se articulou espontaneamente nos últimos dias para realizar resgates de pessoas e a logística de produtos.
Fundo emergencial
O presidente Lula informou que um fundo “emergencial vai ser liberado a partir de hoje” para “os primeiros socorros”. Embora tenha afirmado que “ainda não tem noção dos estragos”, ele reforçou que “não haverá falta de recursos para atender a necessidade do Rio Grande do Sul”. Além disso, se as chuvas atrasarem as colheitas na região, será preciso importar arroz e feijão para evitar aumentos de preços, advertiu Lula.
Chuvas vão atrasar recuo das águas
O nível do Guaíba baixou para 5,19m na noite desta terça, de acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) e Agência Nacional de Águas (Ana). Contudo, o número segue muito distante da cota de inundação, que é 3m.
Uma frente fria trará novos temporais generalizados para o RS a partir desta quarta. As chuvas não devem elevar o nível dos rios, mas sim atrasar o recuo da água nos locais onde ela permanece avançando, como Porto Alegre, região metropolitana e cidades próximas a Lagoa dos Patos.
Segurança reforçada
Além das ações de resgate e realocação das famílias, as autoridades tentam garantir a segurança, em meio a denúncias de furtos de casas e do temor de saques em áreas de Porto Alegre e região metropolitana.
Por isso, cerca de mil policiais foram mobilizados em todo o estado e foi pedido o reforço de outras forças, disse Leite.
Além disso, a Secretaria da Segurança Pública tenta impedir ainda a propagação de desinformação sobre a tragédia e afirmou que responsabilizará quem o fizer com “todo o rigor possível”.
A Brigada Militar do RS também abriu um edital de chamamento imediato de 1 mil vagas para policiais da reserva atuarem nas enchentes. As inscrições vão até sexta-feira. A iniciativa é destinada a militares que integram a Reserva Remunerada da Corporação há até 5 anos.
Fonte: CP