Novas enchentes reforçam desafio da prevenção contra as cheias e a compreensão do clima

As escavadeiras revolvem o chão com urgência. Caminhões fazem fila para descarregar toneladas de argila, enquanto, a metros dali, paredes vão ao chão. Memórias de décadas são reduzidas a escombros em segundos, ironicamente, correndo contra o tempo e, mais uma vez, da água.

A movimentação descreve o trabalho realizado de forma emergencial na Vila Nova Brasília, zona norte de Porto Alegre durante a última semana, mais de um ano após os diques do Sarandi não terem impedido a enchente histórica de 2024. Ilustra o drama de uma comunidade inteira, mas se molda facilmente a tantos outros retratos vistos recentemente no Rio Grande do Sul. E reaviva o debate necessário sobre prevenção e resiliência, que virou pauta diária e obrigatória, mas que avança em descompasso com a execução.

As razões são diversas, mas transpareceram nas últimas semanas, diante de uma nova ameaça de inundação. Comportas, diques, desassoreamentos casas de bombas e remoção de famílias de áreas consideradas de risco voltaram às manchetes, assim como o receio da população de que as cenas do ano passado fossem repetidas.

Mesmo em proporção infinitamente menor do que no ano anterior, o drama se repetiu também no interior do Estado, em cidades da região Metropolitana e em Porto Alegre. Em lugares onde as tão faladas marcas de 2024 sequer sumiram, comunidades inteiras precisaram, mais uma vez, sair de suas casas. A água não parou a Capital ou a economia do Estado, mas voltou a interferir seriamente na vida de ao menos 155 municípios gaúchos, causou cinco mortes e levanta a questão central e ainda não respondida: quando o Estado estará, de fato, menos sensível aos fenômenos do clima?

A prefeitura da Capital destaca que as casas de bombas e as comportas do sistema de prevenção contra cheias entre a avenida Castelo Branco e o Cais Mauá ainda estão em obras, 426 dias depois de o Guaíba tomar a cidade. Da mesma forma, segue a recuperação da orla de Ipanema e do Lami, na zona Sul. Em que pese nestes casos o investimento, a finalização dos projetos não chegou a tempo da crise climática mais recente.

Fonte: O Sul

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