RS não tem destaque na negociação do tarifaço

Flavia Bemfica/Interina
Políticos gaúchos foram céleres em anunciar que o RS seria um dos estados mais impactados pelo tarifaço que Donald Trump pretende impor ao Brasil. E tão rápidos quanto em opinar sobre a crise e reivindicar medidas compensatórias para setores a serem afetados. Mas quando o assunto é propor alternativas viáveis à pressão de Trump ou participar ativamente de tentativas de negociação, o Estado perde chances de protagonismo. Nenhum gaúcho está na comitiva de oito senadores brasileiros que deixaram férias e diferenças ideológicas para trás e viajaram aos Estados Unidos para reuniões com congressistas e representantes de setores produtivos. A ação não vai mesmo resolver o problema, mas reforça a disposição do Brasil em negociar e tenta viabilizar algum tipo de contrapressão interna sobre Trump. Sete dos oito senadores são da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, na qual o RS tem um titular e um suplente. O oitavo senador é da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde têm assento os três gaúchos: dois como titulares e um como suplente. Na contagem por partido, PT e PP mandaram dois senadores cada para a viagem. MDB, PSD, PL e Podemos, um. A região Sul tem um representante na comitiva: Espiridião Amin (PP/SC). São mais dois do Sudeste e dois do Centro-Oeste. E três do Nordeste, região escolhida pelo governador do RS para passar as férias das quais desfruta na semana em que o país vive a expectativa do tarifaço.
Números para todos
Conforme os dados oficiais da balança comercial brasileira, disponíveis no sistema Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), no primeiro semestre de 2025 o estado brasileiro que mais exportou, em valores, para os Estados Unidos, foi São Paulo. Um montante de 6,4 bilhões de dólares. São Paulo é seguido por Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Em quinto lugar aparece o RS, que exportou o equivalente a 950 milhões de dólares no período. Na sexta posição está Santa Catarina, com 847 milhões de dólares.
A dependência de cada um
Quando considerada qual a participação dos Estados Unidos nas exportações totais de cada estado brasileiro, o que está em pior situação é o Ceará. No ano passado, o estado do Nordeste destinou 45% de suas vendas ao exterior para o país de Donald Trump. No primeiro semestre deste ano, 52%. O RS está na 14º colocação, com 8,4% em 2024, atrás de estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina.
100 metros rasos
Apontado como o preferido no campo da direita e entre setores empresariais para disputar a sucessão de Lula em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), correu na frente. No dia 22, anunciou medidas para auxiliar empresas ante possíveis impactos do tarifaço. Chamado de ‘Giro Exportador’, o pacote inclui R$ 200 milhões em crédito com juros subsidiados e R$ 1 bilhão de restituição tributária. No dia 25, o governador do RS, Eduardo Leite (PSD), que tenta entrar na corrida presidencial, anunciou crédito subsidiado de R$ 100 milhões para empresas gaúchas que sejam atingidas.
APARTES
O maior comprador do RS é a China: para lá foram 26,2% das exportações do Estado em 2024 e 15,8% no primeiro semestre de 2025. Os EUA responderam por 8,4% em 2024 e por 10,2% nos primeiros seis meses de 2025. Em 2024, o terceiro maior destino foi a Argentina (5%), seguida pela Bélgica (3,5%) e a Coréia do Sul (3,5%). Neste ano, a lista tem pequena variação, com Argentina (7,4%), Vietnã (4,1%) e Bélgica (3,8%).
No ano passado, a soja respondeu por 20,9% das exportações gaúchas. O segundo item mais vendido ao exterior foi tabaco, com 11,5%. Na sequência vieram farelos de soja e outros alimentos para animais e farinhas de carnes (7,2%), carnes de aves e miúdos comestíveis (5,5%), e celulose (4,6%). O produto mais vendido pelo RS ao exterior no primeiro semestre deste ano foi o tabaco (11,6%). É com os números debaixo do braço que setores empresariais gaúchos marcam presença em Brasília nesta semana.
Fonte: CP