Presidente do Banco Central reforça que os juros devem permanecer em nível alto por longo período

Gabriel Galípolo não trouxe boas notícias para um setor que anseia por crédito barato. Nesta quarta (27), o presidente do Banco Central (BC) falou a empresários do setor automotivo durante o 33º Congresso Fenabrave, realizado em São Paulo.
Galípolo reforçou que a Selic, taxa básica de juros do País, deve permanecer no patamar de 15% por um longo período, já que a convergência para o centro da meta de inflação segue lenta. O presidente do BC disse que projeções feitas para este ano — e também estudos de prazos mais longos, com foco em 2026 e 2027 – indicam que os cenários futuros permanecem com inflação acima da meta anual, que é de 3%, com uma banda variável de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Em comunicados das últimas reuniões, o Comitê de Política Monetária (Copom) tem reforçado a estratégia de manter a Selic em nível elevado por um longo tempo para assegurar a convergência da inflação à meta. Para o comitê, é necessária uma política de juros em nível “significativamente contracionista” –ou seja, que contribua para a moderação do crescimento da economia– por período “bastante prolongado”.
O cenário preocupa os revendedores de veículos, que têm no financiamento uma das principais ferramentas de venda. Por outro lado, o câmbio dá sinais positivos, com dólar registrando quedas, o que favorece as importações de veículos e de componentes comercializados nas concessionárias.
“O mercado cambial tem se comportado bem, há uma mudança na correlação entre as moedas emergentes e o dólar”, afirmou Galípolo. “Historicamente, quando há um aumento na aversão ao risco, tende a ser um momento de valorização do dólar. Temos visto essa relação não funcionar muito bem.”
O presidente do BC explicou para a plateia o processo de definição da taxa básica de juros e fez analogia à medicina. “Tão importante quanto o tratamento para o paciente é explicar como ele funciona.”
Durante o evento, Galípolo ressaltou que é difícil explicar como o Brasil continua apresentando crescimento apesar de ter uma taxa básica de juros tão restritiva.
Uma das explicações possíveis para isso, de acordo com o presidente do BC, seria a renda. Segundo ele, a política tributária mais progressiva, aliada a programas de distribuição de renda, poderiam estar contribuindo para que as pessoas gastem e consumam mais, aumentando o dinamismo da economia.
“O que parece ter acontecido é que a renda tem se mostrado bastante resiliente. Estamos com o nível de desemprego mais baixo da série histórica, batendo 5,8%, dessazonalizado 5,7%, que é o menor nível de desemprego da série histórica. E estamos com o nível mais alto de renda do trabalhador. Então, mesmo com uma taxa de juros restritiva, a gente segue mostrando uma resiliência no mercado de trabalho, bastante forte, o que deve estar puxando uma demanda mais forte”, afirmou.
Fonte: O Sul