Inter precisa vender jogadores para fechar suas contas

A cada dia a janela de transferências da Europa vai se estreitando — e, junto com ela, a margem de manobra do Inter. O clube aguarda, com alguma ansiedade, alguma proposta por seus jogadores. Mais do que aguardar, a direção colorada precisa negociar pelo menos um atleta nesta janela para ter a segurança de que conseguirá pagar salários e outras obrigações no segundo semestre. Menos mal que a janela para os países árabes se estende por mais alguns dias, até meados de setembro.
O detalhe é que não há lista de intocáveis. Qualquer um pode ser negociado — do titular incontestável ao reserva questionado. Assim, nomes como o zagueiro Vitão ou o lateral Bernabei, fundamentais no time de Roger Machado, entram no mesmo pacote de eventuais candidatos a deixar o Beira-Rio que Wesley, contestado pela torcida, e Thiago Maia, que em outras janelas já flertou com a saída.
Ricardo Mathias recebeu uma oferta do Al Nassr, da Árabia Saudita, há três semanas, mas o valor foi considerado abaixo do pretendido pelo Inter. Os dirigentes acreditam que o centroavante de 19 anos valha mais do que os 7 milhões de dólares oferecidos pelos árabes. As negociações podem ser retomadas.
Apesar do discurso de austeridade, a situação financeira não melhorou nos últimos tempos. No primeiro trimestre, o déficit chegou a R$ 64,6 milhões — um número ligeiramente “menos vermelho” do que o de 2024 (R$ 71,2 milhões), mas ainda longe de tranquilizar qualquer dirigente. Além disso, o custo do futebol segue no mesmo patamar do ano passado (ver quadro abaixo), e bem acima dos anos anteriores. Por isso, a ordem é vender jogadores para tapar buracos no caixa e sonhar com algum superávit até dezembro.
O orçamento previa arrecadar R$ 160 milhões em transferências de atletas neste ano. Até agora, a meta foi parcialmente alcançada com negócios menores, como a saída de Rômulo para o Tigres, do México, e de Wanderson, que rumou ao Cruzeiro em troca de dívidas. Mas a ideia é repetir 2024, quando o clube superou as próprias expectativas e arrecadou R$ 258,3 milhões, em grande parte graças à venda de Gabriel Carvalho para o Al Qadsiah, da Arábia Saudita. O curioso é que, mesmo com o caixa cheio de novos dólares, o Inter fechou o ano com déficit de R$ 34,4 milhões.
Outro dado deve ser levado em consideração: a queda de algumas arrecadações. A eliminação precoce na Copa do Brasil e na Libertadores deve acentuar a sangria em algumas contas. Sem premiações maiores e com a perspectiva de queda no quadro social — que já chegou a superar 150 mil sócios —, o Inter terá de recorrer ao velho expediente: abrir mão de peças importantes do elenco para equilibrar as finanças. Além disso, a torcida não deve esperar novidades em termos de contratações até a próxima terça-feira, quando se encerra o prazo para a inscrição de jogadores no Brasil.
Ou seja, os problemas do Inter dentro de campo já são bastante grandes. E, fora dele, não são nenhum um pouco menores.

| Foto: ARTE: LEANDRO MACIEL
Fonte: CP