Os bastidores que derrubaram a candidatura de Marcelo Marques à presidência do Grêmio

“Pegou toda a torcida de surpresa”. A frase do empresário Celso Rigo resume como o lado azul do Rio Grande do Sul reagiu à notícia da desistência de Marcelo Marques a concorrer à presidência do Grêmio. A mudança de perspectiva é o segundo cavalo de pau na política do clube em pouco tempo.
Sem comunicar a ninguém, nem mesmo os parceiros de chapa, como o próprio Rigo e Antônio Dutra Júnior, Marcelo Marques escolheu uma emissora de rádio da qual sua empresa é patrocinadora para anunciar a desistência. Conduta contrária a da adotada quando do anúncio da compra da Arena quando foi organizada uma entrevista coletiva no auditório do estádio. Segundo Marques, a decisão é irreversível e foi feita principalmente pela questão política do clube.
O empresário, com o tom de voz bem baixo do mostrado no dia em que ganhou o noticiário mundial com a aporte de R$ 130 milhões ao clube, levou longos quarenta minutos de desabafos diante do ambiente encontrado nas últimas semanas. Até que não aguentou e comunicou se retirar do pleito. Sem dar nomes ou apontar os reais desagravos, disse ter estranhando muito a penetração política nos bastidores do dia a dia do futebol.
O estopim dessa insatisfação política tem relação com a composição da lista de 180 conselheiros que vão concorrer ao Conselho Deliberativo do clube. Em reuniões, o presidente Alberto Guerra e o vice de futebol Alexandre Rossato pediram a inclusão de 15 nomes (entre eles: Deco Nascimento, Romildo Bolzan Neto, Guto Peixoto e Ferrari Júnior), os quais compõem movimentos que apoiam a atual gestão, na lista da chapa ao Conselho, o que não teve consenso com pares de Marques. O empresário ficou bastante descontente. Ele deixa a corrida presidencial um mês e meio após o histórico 11 de julho: “Com muito carinho e respeito ao Grêmio anuncio que acabamos de assinar a compra dos créditos da Reeve e a compra dos direitos de gestão da Arena Porto-Alegrense”.
O movimento, inclusive, tirou do caminho o então principal concorrente ao posto de presidente: Paulo Caleffi. O ex-vice de futebol oficializou a desistência da candidatura no dia seguinte. “Conversei com meus pais, com meu irmão e eu não posso expor a minha família a um pleito eleitoral que está se demonstrando extremamente radical. Eu tenho três filhos pequenos em idade escolar, que eles têm bastante ciência do que tá acontecendo e, por consequência, os seus colegas também”. O caminho estava livre para Marcelo Marques ser o novo presidente do clube. Porém, tudo mudou no dia 27 de agosto, colocando um ponto final no que era tratado como um sonho do empresário gremista.
Os outros candidatos à presidência
Com a desistência de Marcelo Marques, o pleito em novembro conta com três candidatos confirmados: Denis Abrahão, Gladimir Chieli e Sérgio Canozzi.
Esse número, porém, deve mudar. O ex-vice de futebol Paulo Caleffi poderá rever a sua posição. No dia 12 de julho, um dia após Marcelo Marques anunciar a compra da Arena, ele abriu mão da candidatura. Procurado pela reportagem do CP, ele ainda não respondeu.
A outra mudança está na chapa de Marcelo Marques. Sem o empresário, outro nome será lançado. Antônio Dutra Júnior é o favorito a concorrer no pleito como o cabeça de chapa.
Agenda prevê duas eleições até novembro
A primeira parte do processo eleitoral está marcada para 27 de setembro, quando ocorre a eleição para renovar 150 cadeiras do Conselho Deliberativo. Para que uma chapa tenha seus nomes eleitos, é preciso ultrapassar a cláusula de barreira, que é de 15% de votos válidos. O número de eleitos de cada uma das chapas será proporcional aos votos recebidos.
Depois da renovação de parte do Conselho, iniciam os movimentos formais para a eleição presidencial. Ela deve ocorrer na segunda quinzena de novembro. Os candidatos com mais de 20% dos votos, dentro do universo de 343 conselheiros, vão para o “pátio”.
Como fica a gestão da Arena a partir de agora
A saída de Marcelo Marques da corrida presidencial não muda em nada a gestão da Arena, que segue em transição até o final do ano. A partir de 2026, o estádio será totalmente administrado pelo clube. Segundo Marques, o negócio vai gerar um aumento significativo do caixa. O Tricolor vai ganhar cerca de R$ 50 milhões por ano com a Arena.
Nessa conta, o Grêmio deixará de pagar a cessão onerosa de lugares para acomodar os associados que têm direito a assistir às partidas, um valor de cerca de R$ 24 milhões. De acordo com o cálculos do empresário, a Arena se sustenta praticamente sozinha.
Dinheiro para reforços deve ser mantido
Os 10 milhões de euros que Marcelo Marques usaria para ajudar na contratação de Roger Guedes estão à disposição da atual gestão, comandada pelo presidente Alberto Guerra. Porém, diferente do valor investido na compra da gestão da Arena, esse dinheiro terá que ser ressarcido caso seja utilizado. É um empréstimo feito pelo empresário, sem juros.
Marcelo Marques assegura que seguirá ajudando o clube em contratações sempre que for preciso, assim como acontece com Celso Rigo. Os dois, por exemplo, estiveram juntos na operação que trouxe Luis Suárez, pagando parte do salário do uruguaio.
Vestiário também não esperava o anúncio
Não foi somente nos gabinetes da Arena que ecoou a desistência da pré-candidatura de Marcelo Marques à presidência. No vestiário do CT Luiz Carvalho, a notícia também pegou a todos de surpresa. Funcionários ficaram sem entender a decisão, uma vez que o empresário estava por dentro do que o departamento de futebol vinha fazendo.
Afinal de contas, por ele podem vir aportes para o grupo de Mano Menezes. Não é o caso de Arthur, que veio sem custos da Juventus. No entanto, desde segunda-feira em Porto Alegre, o volante ainda não assinou contrato e não te data prevista para ser apresentado.
Fonte: CP