Como foi o depoimento do “Careca do INSS” na CPMI

O empresário Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS” e atualmente preso pela Polícia Federal, depôs nesta quinta-feira (25) à CPMI do INSS e negou veementemente ter participado do esquema de descontos indevidos em benefícios de aposentados. Ele alegou que os descontos são responsabilidade direta das associações e não de sua atuação.
Antonio Carlos explicou que seu trabalho, iniciado em 2017, era apenas vender um aplicativo para facilitar a relação entre as associações e seus associados, oferecendo serviços como descontos em farmácias, auxílio-funeral e seguros. O empresário afirmou categoricamente que não recrutava associados e jamais acessou o sistema do INSS. Ele sugeriu que as falhas no sistema, como vazamento de cadastros e senhas, poderiam ser a causa dos problemas, mas questionou as estimativas de que mais de 90% dos descontos seriam indevidos.
Confronto com o relator
O depoimento foi marcado por um intenso confronto com o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). O relator acusou Antonio Carlos de ser procurador de associações, como a Ambec, que saltou de 3 para 600 mil associados em apenas dois anos. Gaspar também questionou o aumento patrimonial do empresário, que teria crescido R$ 14 milhões em menos de três meses em 2024.
Amparado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), Antonio Carlos recusou-se a responder às perguntas do relator. Ele justificou sua decisão alegando que o deputado o teria pré-julgado e condenado publicamente.
“Na sessão em que foi tomado o depoimento do senhor Rubens [Oliveira, diretor de empresas do empresário], vossa excelência disse, por mais de uma vez, que eu sou ladrão do dinheiro de aposentados, sem me dar a chance de defesa. Ou seja, o relator já me julgou e condenou sem sequer me ouvir”, afirmou. Mesmo assim, Alfredo Gaspar fez todas as perguntas, abrindo a sessão com uma declaração contundente: “Relatado pela Polícia Federal, está presente aqui o autor do maior roubo aos aposentados e pensionistas da história do Brasil.”
Versão da defesa
Em sua defesa, Antonio Carlos buscou desconstruir a figura do “Careca do INSS”, dizendo que o personagem foi criado por fontes de reportagens que não apresentaram provas, e citou o advogado Eli Cohen como fonte das denúncias. Ele confirmou possuir 22 empresas em diversas áreas e negócios nos Estados Unidos, Colômbia e Portugal, garantindo que seu patrimônio é resultado de trabalho e que sua viagem anterior à Operação Sem Desconto da PF foi para Portugal e a trabalho.
Ao final, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) sugeriu a realização de uma acareação entre Antonio Carlos Antunes e o denunciante Eli Cohen, levantando a hipótese de que o depoimento de Cohen poderia ter sido dado “no sentido de direcionar as investigações para um determinado caminho, quem sabe para proteger pessoas que também ganharam muito dinheiro nesse esquema criminoso”.
Fonte: CP