Saiba o que motiva brasileiros a migrarem para os EUA

Endurecimento de regras de entrada e aumento de custos nos processos de vistos não diminuíram força do movimento de imigração de empreendedores e profissionais altamente qualificados
A balança dos prós e contras de imigrar para os Estados Unidos ganhou vários revezes nos últimos meses e, de fato, fez muitos brasileiros mudarem seus planos. Teve até quem desistisse de visitar o país, ainda que a turismo. Por outro lado, vem crescendo o interesse de uma outra categoria: a de profissionais especializados com currículos de peso, executivos, empreendedores e pessoas que buscam investir com segurança em terras estrangeiras.
Em 2025, até maio, foram emitidos 1.142 vistos nas categorias EB-1 e EB-2 para brasileiros, de acordo com dados do Departamento de Estado dos EUA, compilados pela consultoria AG Immigration. Ambos são vistos de imigração e entram na categoria de green cards (a residência permanente). Eles são destinados a profissionais de destaque em suas áreas, com as chamadas habilidades extraordinárias, em campos como artes, ciências, educação ou negócios, e podem se encaixar a executivos e empresários.
Considerando todos os tipos de green card, foram 3.211 emissões nos primeiros cinco meses deste ano. Nesse mesmo período em 2024 haviam sido 2.531. No ano passado inteiro foram 5.856 permissões de residência permanente.
“Nos últimos anos, temos observado um aumento significativo na migração de empreendedores e profissionais altamente qualificados do Brasil para os Estados Unidos, tendência que se intensificou de forma expressiva em 2023 e 2024. Em 2025, o fluxo de consultas e atendimentos relacionados tem se mantido em patamares elevados, muito próximos dos anos que já haviam sido recordistas em emissões”, aponta o fundador da consultoria AG Immigration, Rodrigo Costa. “Mesmo diante de novas exigências e novas tarifas, o movimento imigratório qualificado segue forte.”
De acordo com ele, o público que tem buscado a consultoria hoje é formado, em boa parte, por famílias com perfil de alta renda, com predominância de empresários e empreendedores.
Reposicionamento
“A barra de exigências do governo norte-americano está sendo requalificada com outros ingredientes e critérios mais elevados, além do aumento da qualificação financeira necessária. Com isso, percebemos que tem havido uma mudança de posicionamento e um realinhamento do perfil dos interessados na internacionalização”, destaca o consultor em internacionalização Marcio Almeida, da Masima Advisors.
As exigências afastaram quem pretendia se estabelecer sem um plano de investimentos estruturado, mas continuaram atraindo aqueles que possuem fôlego e capacidade produtiva de entrada, conforme explica o consultor.
Segundo os especialistas, a procura pela internacionalização de negócios com mudança familiar está mais setorizada. Ela inclui projetos nos ramos de tecnologia, varejo, educação, saúde e prestação de serviços de mão de obra.
Almeida destaca um fenômeno ainda mais recente. “De alguns meses para cá, temos atendido grupos de empreendedores que buscam investir por meio de parcerias”, diz. Ele cita ter recebido, por exemplo, um pool de executivos de 18 marcas de envasamento de água, interessadas em atuar em bloco nos EUA. Em outra oportunidade recente, o consultor também orientou uma comitiva de médicos com um projeto de criação de um grupo de clínicas associadas no mercado norte-americano.
As parcerias vêm sendo vistas como uma maneira de ampliar o fôlego financeiro para o desenvolvimento de projetos de negócio. E elas têm funcionado tanto com grupos formados por empreendedores brasileiros quanto com alianças de brasileiros com negócios locais norte-americanos.
“As mudanças nas políticas de imigração trouxeram necessidade de mais critério e planejamento. Porque o rigor não está somente no processo de concessão do visto, mas também no acompanhamento da implementação do plano de negócios apresentado e na fiscalização posterior. Hoje há um controle mais próximo para verificar se você de fato concretizou o business plan que apresentou”, explica o advogado especialista em direito tributário internacional, Adriano Murta, fundador da consultoria M&P Capital Investments.
Murta é outro especialista que tem presenciado o fenômeno de formação de grupos de investimento e destaca projetos nas áreas de tecnologia e aplicativos, inteligência artificial e marketing digital entre algumas das mais procuradas. Para ele, vale destacar ainda um outro setor, tradicional nos Estados Unidos, que deve voltar a aquecer nos próximos meses: o house flipping, ou flip de imóveis, quando um investidor adquire um imóvel antigo ou depreciado, reforma e revende com lucro.
Razões para mudar
Os motivos desse interesse pela internacionalização dos negócios e migração não são novos, mas ganharam força com as instabilidades político-econômicas brasileiras dos últimos anos e o cenário de incertezas globais. Além de maiores oportunidades profissionais, a proteção do patrimônio é vista como prioridade.
Se, por um lado, o endurecimento das regras para a emissão de vistos, o aumento dos custos e a postura dura do presidente Donald Trump em muitos aspectos dificultaram os processos recentemente, por outro, a estabilidade da maior economia do mundo, a facilidade de empreender e a qualidade de vida ainda têm pesado muito nessa balança.
“Há um forte componente relacionado às oportunidades profissionais e empresariais nos Estados Unidos. O mercado norte-americano oferece um amplo ecossistema de negócios, acesso a capital, infraestrutura de ponta e políticas de incentivo à inovação, especialmente em setores como tecnologia, engenharia, ciências e saúde”, explica Rodrigo Costa, da AG Immigation.
A disparidade na comparação dos ambientes de negócios entre os dois países chama a atenção. “Empresários enfrentam um verdadeiro labirinto tributário no Brasil. A burocracia não é apenas um custo financeiro, mas também um custo de oportunidade, porque tira o foco da expansão e inovação do negócio”, complementa Murta, da M&P Capital Investments. “Nos EUA, a previsibilidade tributária e a menor burocracia permitem que empresas se concentrem em crescer e inovar.”
Empresa em 24 horas no Sunshine State
O advogado tributarista lembra facilidades como a possibilidade de se conseguir abrir uma empresa em apenas 24 horas na Flórida. O estado é um dos preferidos dos brasileiros para a instalação de suas famílias e negócios. Razões como o clima mais quente que o resto do país, a proximidade do Brasil, a multiculturalidade e a grande comunidade de brasileiros são alguns dos diferenciais que levam à escolha do lugar que é conhecido nos EUA como o Sunshine State (em português, o estado onde o sol sempre brilha).
Além da Flórida, outros locais muito procurados pelos imigrantes brasileiros são Texas, Massachusetts e Califórnia.
Fonte : Diário do Comércio