Entenda por que há falta de combustível na Argentina
Os argentinos estão enfrentando dificuldades para abastecer os seus veículos. O país, que é um grande produtor de petróleo e gás de xisto, tem sofrido com a escassez de gasolina e diesel desde o final da semana passada, devido a problemas de refinação interna e à falta de dólares, que atrasa as importações.
O ministro da Economia e candidato presidencial, Sergio Massa, culpou as petroleiras e indicou que elas retêm estoques “para especulação”. O setor empresarial alega que não há combustível.
Carros parados no meio da estrada, outros estacionados em locais inusitados e filas muito longas nos postos são imagens cada vez mais comuns. A falta de gasolina afetou o consumo no varejo, embora os atacadistas também tenham sentido o impacto.
A Fadeeac (Federação Argentina de Entidades Empresariais de Transporte de Carga) alertou, em comunicado na sexta-feira (27), sobre uma “crescente escassez de combustível”.
A Fadeeac acrescentou que essa crise “impacta diretamente a produtividade e a rentabilidade” do transporte de cargas.
O presidente da Fecra (Federação dos Empresários de Combustíveis da República Argentina), Vicente Impieri, disse que a normalização do abastecimento pode levar “alguns dias”.
O Ministério da Energia informou que foi acordada a importação de dez navios com combustível, durante uma reunião com as petroleiras para procurar soluções para o problema da escassez. Massa definiu esta terça-feira (31) como prazo para que o problema seja resolvido.
“É muito raro” que falte combustível no país de Vaca Muerta [campo de petróleo], considerada a segunda reserva de gás não convencional do mundo. Essa foi uma das declarações mais contundentes do ministro da Economia sobre a situação atual.
No meio dessa crise, Massa colocou a responsabilidade nas empresas petroleiras. Segundo o ministro, “houve uma retenção de estoques” devido às especulações sobre uma possível desvalorização após as eleições presidenciais do dia 22.
Isso não aconteceu, ao contrário do que ocorreu no dia seguinte às primárias de 13 de agosto, quando o governo decidiu aumentar o valor do dólar oficial em 21%.
O ministro e presidenciável também argumentou que o término do congelamento dos preços dos combustíveis previsto para esta terça-feira teria funcionado como elemento de especulação para retenção de estoque devido à incerteza sobre quanto aumentará o valor dos combustíveis após o referido acordo.
O secretário da Fecra, Hernán Landgrebe, negou qualquer versão de retenção de estoque. “Não podemos nos dar ao luxo de parar de vender”, disse o representante do setor. “Convido-vos a passar pelos postos fechados e verificar se os tanques estão vazios”, acrescentou.
Mercado interno e externo
“O produtor tem que escolher se vai vender no mercado externo ou no mercado interno e tem o dobro do valor do barril em dólar. Ele decide vender no mercado externo e estocar. Essa é a razão”, disse Massa.
Os indicadores explicam esse desequilíbrio. Segundo dados do site GlobalPetrolPrices, o preço internacional do litro da gasolina é de US$ 1,34.
Na Argentina, esse preço é de US$ 0,86, medido com a referência oficial do dólar. Se medido com o dólar paralelo ou azul, o preço do litro da gasolina cairia para cerca de US$ 0,30 no mercado interno.
Esses números mostram que, sem considerar as diferenças de poder de compra, a gasolina na Argentina é muito barata na comparação com outros países da região. No Brasil, segundo a GlobalPetrolPrices, seu valor por litro é de US$ 1,14; no Uruguai, US$ 1,94; no Chile, US$ 1,44; e no México, US$ 1,34.
“Se as petroleiras não regularizarem a situação até esta terça-feira, não poderão exportar na quarta-feira”, alertou o ministro da Economia.
Para Daniel Montamat, ex-secretário de Energia, as exportações não explicam a razão do problema. O valor do combustível na Argentina sofre distorções em decorrência de aumentos ou congelamentos de preços acordados com o governo, o que afetaria a oferta de gasolina. “Isso a reduz”, disse Montamat.
Massa alegou que as empresas petroleiras desfrutam de benefícios fiscais como parte dos acordos de regulação de preços. “O governo abriu mão de arrecadar impostos para manter o preço para o povo”, disse o ministro.
Fonte: O Sul